domingo, 19 de julho de 2009

Exemplo

Está chegando ao fim um dos finais de semana mais tumultuados da minha vida. Na última sexta-feira (17/07/2009) meu avô paterno, 74 anos, foi internado na UTI devido a diversas complicações de saúde. E é um breve resumo da história de vida deste homem que quero compartilhar com vocês. Não tenho informações precisas quanto a anos e datas, por isso compartilho apenas fatos, que acredito serem de muito mais valor.

Meu avô nasceu em um povoado da cidade de Biguaçú. Quando criança perdeu o pai e, dada a situação financeira, mudou-se para Brusque, para trabalhar na casa de uma família de boa renda. Conseguiu trazer a mãe para perto de si, porém a mesma veio a óbito pouco tempo depois. Durante os anos seguintes, meu avô permaneceu na casa desta família, trabalhando exaustivamente e estudando conforme o improviso permitia.

Chegando à idade adulta, consegue emprego em uma escola de Guabiruba, para onde muda-se. Passa a exercer uma jornada tripla, trabalhando, estudando e apresentando-se ao serviço militar prestado na época. Nesta época conhece uma jovem, que anos depois seria a mãe de meu pai. Forma-se professor e passa a lecionar de forma rígida e séria. Diferente dos dias atuais, nenhuma falta de respeito em sala de aula era permitida na época e os que fugiam à regra eram severamente punidos.

Casa-se e pouco tempo depois volta a ter uma jornada tripla: trabalha na escola, é pai, e trabalha na terra para auxiliar no sustento da família. Havia nascido meu pai, o mais velho de 10 irmãos. Como era comum na época, logo nascem outros filhos, e a família muda-se para outro bairro de
Guabiruba, para a mesma casa em que a família vive até hoje.

Os anos como bom professor trouxeram até ele o cargo de diretor da pequena escola. Sempre trabalhando pela comunidade, ajudava a todos sempre que podia, participando de construções de casas, igrejas, capelas e associações. Promovia festas na escola, passeios nos quais pedia ajuda a caminhoneiros da época, que levavam as crianças dentro de seus caminhões, além de todo tipo de evento que a situação precária permitisse. Preocupava-se também com aqueles que estavam sob sua responsabilidade, buscando sempre as melhores condições para ensino e trabalho. Tudo isso sem perder a linha de disciplina rígida e séria.

O empenho comunitário fez com que ganhasse grande respeito na comunidade e logo decidiu arriscar-se na carreira política. Na época, o pré-candidato devia passar alguns meses afastado de qualquer atividade profissional antes da campanha. Neste período, a família foi sustentada praticamente apenas pelos produtos obtidos nas atividades agrícolas que meu avô exercia em suas poucas terras.

Na carreira política, conseguiu eleger-se vereador e depois vice-prefeito. Fez campanha à moda da época, visitando casas, conhecendo famílias e fazendo promessas. Teve, porém, grandes decepções com as diversas artimanhas sempre presentes na política brasileira. A venda de votos, as traições e outras imoralidades limitaram o sucesso político e logo percebeu que esse não era seu futuro.

Deixou a carreira política e exerceu várias profissões, sem nunca deixar a agricultura de sustento de lado, até abrir um mini-mercado e bar. Inaugurou uma das ditas "vendas" e voltou a origem de vila litorânea vendendo peixes de diversos tipos, comprados diretamente dos barcos de Itajaí, além de gêneros alimentícios diversos. Passou a dedicar-se ao comércio, vendendo inclusive alguns dos ítens que cultivava. Na "venda" contou com o auxílio dos filhos já adultos. Foram dez filhos ao total. Alguns que mudaram-se para outras cidades, outros que permaneceram em Guabiruba. Alguns que desligaram-se mais, outros que continuaram a viver na mesma casa.

Alguns anos atrás, um acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como derrame, comprometeu a capacidade de fala e de locomoção e meu avô teve que afastar-se de suas atividades. Teimoso como sempre foi toda sua vida, tentava retomar as atividades agrícolas, no pequeno terreno que restou após a divisão dos bens entre os filhos.

Desde então, foram várias as internações e intervenções médicas, até a madrugada do dia 17/07/2009, quando foi novamente internado. Já na UTI, foi detectado que a circulação da perna esquerda estava criticamente comprometida, não restando alternativa se não a amputação da mesma. Na recuperação, durante a madrugada do dia 18, o estado piorou e meu avô veio a óbito.

Acabava a passagem pela terra de um dos maiores exemplos de vida que tenho. Acabava a passagem na terra do pai de dez filhos e filhas, avô de 23 netos e bisavô de vários bisnetos. Acabava a passagem do homem que não tinha nem pai ou mãe e foi professor por trinta e três anos, vereador, vice-prefeito e construiu seu próprio negócio. A nós resta este legado que ele construiu com muito suor, dedicação, mas acima de tudo, muito trabalho.

Peço desculpas se a história ficou demasiadamente romanceada, mas foi o que consegui reunir de anos de conviência familiar.

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